sexta-feira, 16 de março de 2012

CRISES QUE COMEÇAM EM BRINQUEDOS

Por Clarice Pereira

Uma crise, no âmbito da comunicação, refere-se a um acontecimento ou evento que atrai intensamente a cobertura jornalística e os veículos se tornam os responsáveis pela transmissão das informações ao público de interesse da empresa. Uma exposição negativa na mídia está longe de ser o desejo das empresas. Vale ressaltar o caso do Hopi Hari, que após anos para construir uma imagem de excelência para a diversão das pessoas, e, apesar das dificuldades financeiras, com certeza esse não era o sonho de verão: ver uma adolescente morta após a queda de um brinquedo.

E em um momento de crise, como o do Hopi Hari, cabe a companhia apenas dois caminhos: ir a luta para dialogar com a sociedade ou virar as costas para o que a opinião pública quer e tem o direito de acompanhar os fatos. A segunda opção, em qualquer situação de crise - seja grevista, acidentes, degradação ambiental e outros - até parece mais fácil, mas a credibilidade da empresa, negadora de esclarecimentos, pode ficar defasada diante da sociedade que consome seus produtos ou faz uso de seus serviços.

Se não bastasse, além da perda de consumidores, outros desastres podem vir no meio do caminho de uma empresa em crise, como o afastamento de patrocinadores, associados, parceiros etc. Em outras palavras, a postura das companhias diante de uma crise afeta sua imagem institucional que, por sua vez, afetará a lucratividade corporativa, que decrescerá drasticamente.

Apesar de certas empresas ainda não darem a devida importância para a comunicação, reduzindo os investimentos em razão de alguma crise ou queda nos rendimentos, ela ocupa uma parte do diálogo e também do lucro que entra para a empresa. Para uma empresa vender, ela precisa se comunicar com o seu público-alvo, mantendo sempre um relacionamento de fidelização com os clientes ou consumidores. Afinal, qual empresa consegue crescer sem consumidores? Qual parque que consegue se manter aberto sem os seus visitantes.

Só para entendermos: na área mercadológica, a comunicação é voltada para as vendas. Ela busca atuar no campo das estratégias que reforçam a imagem das marcas e produtos visando o desenvolvimento de ações criativas para gerar lucratividade à empresa, como promoções, campanhas, descontos, etc. Na área institucional, a comunicação, além de existir para a relação de diálogo entre os internos (colaboradores, fornecedores, associados e parceiros), procura criar uma atmosfera positiva frente à imprensa e à sociedade. Portanto, a comunicação não é um mero modismo nas folhas de investimento corporativo, ela ajuda a empresa a crescer, se desenvolver, ter contato com aqueles de quem ela precisa no mundo a fora e também no contato com o público interno.

Quando pensamos numa crise, a comunicação é a responsável pelo planejamento emergencial e pelas ações preventivas que serão tomadas diante dos fatos. Não adianta se esconder! A sociedade e a imprensa têm perguntas, querem saber como, o por quê do ocorrido e de que forma será solucionado. Se a empresa não prestar esclarecimentos e declarações coerentes, a avalanche gerada pelo acontecimento negativo será inevitável e a companhia correrá o risco de sucumbir pela opinião pública.

Recentemente a APRPP – Associação dos Proprietários do Residencial Parque dos Príncipes foi acusada de tentar estabelecer um condomínio fechado em um local destinado a ser residencial. Tanto é que a própria Prefeitura entrou na Justiça e, precipitadamente, demoliu duas guaritas que nada mais eram do que dois estabelecimentos de segurança privada, que não restringem o acesso de carros nem dos passantes. Com o apoio da assessoria de comunicação, a APRPP conseguiu esclarecer para o público e para a imprensa que não proibia a circulação de nenhum cidadão, mas sim garantia segurança dos passantes. No caso de uma falta de intervenção e esclarecimento da associação, utilizando as formas corretas, o efeito poderia ter sido mais negativo, acarretando até uma perda de credibilidade com os associados.

Preparar a equipe profissional ou os porta-vozes da organização para saber lidar com a mídia é primordial em situação de crise. Eles devem saber o que falar para o público com clareza, precisão e transparência. Assim, a empresa saberá se posicionar naquela situação caótica e manterá a fidelidade com seu público-alvo.

Outro problema no mundo dos negócios, e há de se tomar muito cuidado quanto a isso, está no fato de certos profissionais se considerarem aptos para falar diante do público e da imprensa e até em um momento de crise. A comunicação, apesar de não ser um material concreto e de não gerar lucro de maneira direta para as empresas, é um campo que exige a atuação de profissionais especializados para tanto. Saber comunicar e o que comunicar é uma tarefa que deve ser pensada estrategicamente para que uma empresa seja bem compreendida no momento da crise e, é claro, para que saia dela.

Enfim, num momento de crise a comunicação não pode ser deixada de lado. Ela será a frente de batalha para que a empresa não se torne impopular, afastando consumidores e perdendo o seu rendimento por conta da má imagem. Credibilidade é quase tudo dentro da sociedade da informação. Ela assume grande parte da lucratividade da empresa e, por conta disso, deve ser sempre trabalhada. A imagem corporativa envolve todo um esforço contínuo para ser mantida. As empresas mais fortes e modernas, aquelas que praticam estratégias corretas de comunicação e que não bloqueiam a informação conseguirão se manter de pé ou, quem sabe, até acabem alcançando uma visibilidade melhor no mercado. Tudo depende da postura e do planejamento correto, pois assim ela conseguirá manter o que todas querem: clientes fidelizados e que continuem a subir em elevadores de brinquedo para se divertirem.

* Clarice Pereira é jornalista, formada pela USP – Universidade de São Paulo e especialista em marketing, pela ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. Há 30 anos desenvolve atividades de comunicação empresarial. Atualmente comanda a Link Portal da Comunicação (www.linkportal.com.br), assessoria de comunicação integrada, fundada há mais de 10 anos. E-mail: linkcomunicacao@linkportal.com.br

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